terça-feira, 23 de julho de 2013

O Guarany: CACHOEIRA, CAPITAL DA BAHIA, EM DECLÍNIO

Solenidade da transferência e instalação do governo estadual na Cidade Heroica e Monumento Nacional, a cada 25 de junho, perde expressão

SOBRE O MITO DA DEMOCRACIA E DO ESTADO DE DIREITO NO BRASIL

A Democracia e o Estado de Direito em terras brasileiras é um mito, uma farsa tão bem montada que chegamos a acreditar que seja uma verdade. A única forma de o cidadão participar da cena política nacional é imposta, obrigatória. Alguns estudiosos do tema dizem que no Brasil a democracia enquanto regime político está em construção e longe de ser alcançada em sua plenitude, mas o que se tem observado é que do jeito que as coisas andam a Democracia plena é algo que jamais será alcançado no Brasil.

O QUE DEVE SER ENSINADO NOS ENSINOS FUNDAMENTAL E MÉDIO?[1]

Por: Everton Marques de Carvalho[2]

Antes de começar a estudar sobre Ensino de História tinha a concepção de que “o Ensino de História era uma disciplina que deveria tratar de como deve ser a aula de História, de como o professor deve moldar os conteúdos estipulados pelo planejamento e pelo currículo escolar para torná-los agradáveis aos estudantes”.
Noto que essa era uma concepção diferente (para não dizer errada). Os textos lidos e comentados em sala de aula, as orientações do professor, e as leituras autônomas, mas orientadas, me mostraram que essa minha concepção sobre Ensino de História precisava ser reformulada.
O Ensino de História deve ter como objeto de pesquisa as temáticas trabalhadas na sala de aula. Partindo da concepção da História Social Vista de Baixo, de que a função da História é dar a quem a estuda uma noção de identidade (SHARPE, 1992), e da proposta de Nicholas Davies (As camadas populares nos livros de História do Brasil, 1997), que propõe um ensino de História que tenha a função de prover os estudantes de um conhecimento que seja capaz de melhorar a sociedade a qual vivem.
Somando essas concepções prévias sobre ensino de História, com o que foi explanado até agora na disciplina, percebo que o Ensino de História tem como objeto as temáticas abordas nas aulas de História, os conteúdos, o que deve ser trabalhado especificamente dentro de cada conteúdo, esse deve ser o objeto de estudo do Ensino de História enquanto disciplina acadêmica, enquanto campo de estudo.
Outra conclusão que os estudos que até agora foram realizados na disciplina permitem fazer é a proposta por Nicholas Davies (As camadas populares nos livros de História do Brasil, 1997), que propõem uma aula de História (nas escoas de Ensinos Fundamental e Médio) na qual o temas trabalhados sejam pertinentes  à classe social dos estudantes, que os grandes movimentos sociais sejam estudado tendo em vista a participação das pessoas da classe social dos estudantes.
Isso faz com que os estudantes, principalmente os oriundos das classes média-baixa e baixa, classes que acabam por ser excluidas da cena histórica, se sintam sujeitos ativos, portadores de História, criando assim, como propõe Jim Sharpe, uma identidade histórica, e um consequente gosto pelo estudo da História e consequentemente pelas outras disciplinas acadêmicas a qual tem de estudar.


Referências

DAVIES, Nicholas. “As camadas populares nos livros de História do Brasil.” Pinsky, Jaime (Org.). O Ensino de História e a criação do fato. 7ª Ed. São Paulo: Contexto, 1997. pp. 93-104.
SHARPE, Jim. “A História vista de baixo.” BURKE, Peter (Org.). A escrita da História: novas perspectivas. Trad. Magda Lopes. São Paulo: Editora Unesp, 1992. pp. 39-62.



[1] Atividade avaliativa apresentada à Disciplina Laboratório de Ensino de História, ministrada pelo Professor Sérgio Armando Diniz Guerra Filho, no 5º período da Licenciatura em História da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia.
[2] Graduando em História pela UFRB, em Pedagogia pela Faculdade Adventista da Bahia,
e-mail: everton.mdecarvalho@yahoo.com.br.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Sobre a origem do racismo, da homofobia e outros males


O blog História e Sala de Aula manteve sempre o objetivo de manter a religião fora de qualquer cogitação, mas, em virtude de fatos que ocorreram em escolas religiosas no Brasil, em virtude do novo cenário psico-social, uma nova maneira de pensar se perpetuou na pós-modernidade, principalmente a partir da virada do século XX para XXI. Os incontáveis conflitos que ocorreram desde sempre, simplesmente por que indivíduos ou grupos têm formas de pensar diferentes.
As guerras entre Israel e Líbano, a perseguição aos judeus na Alemanha Nazista, as inúmeras execuções na Idade Moderna na Europa simplesmente porque não se aceitava uma fé diferente da Católica, assim como o conflito armado mais antigo da história da humanidade, a guerra de Darfur na África Oriental são exemplos disso.
“Em nome de Deus” seja ele Alá ou Yavé milhões morreram e outros milhões ainda morrerão enquanto tais ideologias imperarem. A religiosidade foi, desde sempre, a raiz de todos os preconceitos, preconceitos religiosos, ligados à cor da pele, à opção sexual, à forma de culto foram criados com base em interpretações parciais das escrituras religiosas, traduções e reedições distorcidas, direcionadas a interesses de grupos dominantes. Sendo assim, permite-se afirmar que uma sociedade cada vez mais tolerante, culturalmente mais diversificada só será possível quando o elemento religioso for cada vez menos presente.
Em dias em que a Inquisição tem um poder mínimo e o direito à vida é defendido internacionalmente, não se mata explicitamente por ter uma cor de pele diferente, ou por ter uma forma de ver o mundo diferente, não se mata por ter uma opção religiosa diferente ou por ter uma opção de gênero diferente da que foi biologicamente predeterminada. Mas a sociedade fundamentada nos padrões cristãos europeus, pauta-se na separação, enquanto as partes que eles usam na Bíblia para justificar essa separação, enquanto a teoria bíblica leva a agregação, a assimilação das diferentes culturas.
Por mais que os cristãos pratiquem suas doutrinas em nome de um Deus que não faz acepção de pessoas gêneros ou cor de pele, os próprios cristãos criam preconceitos entre eles mesmos. Católicos e protestantes, protestantes e adventistas e assim por diante. Demonizam qualquer prática religiosa, por mais que seja cristã, simplesmente por ser uma prática diferente da sua, simplesmente porque atrai seguidores que eventualmente estariam sua doutrina, aí é que se encontra a raiz do preconceito, quanto menos fiéis, menos entrada de caixa, ou melhor, menos ofertas, menos dinheiro, menores cotas para os ministros e administradores das corporações,  ou melhor, das igrejas.
O que se percebe as Igrejas (denominações religiosas) nada mais são que organizações econômicas, indústrias da alienação, que fazem o uso de uma lavagem cerebral com tamanha sofisticação que quem a sofre, diz submeter-se a tal manipulação de maneira voluntária.  Constroem escolas que não passam de campos de concentração, onde milhares de mentes são manipuladas todos os dias, escolas como as que aparecem em Anotherbrick in the wall, onde a diversidade e a liberdade são cerceadas e o racismo, a homofobia e o preconceito religioso são ensinados todos os dias em cada aula, cada momento de culto.
Essa indústria de manipulação de mentes e de alienação precisa ser freada, pois do contrário regressaremos à mentalidade medieval, e matar-se-á por motivos religiosos, por haver uma diferença na cor do chapéu ou da camisa, ou porque uma mulher usa calças ou deseja trabalhar fora de casa. O outro será demonizado simplesmente por ser o outro, e não por ser o semelhante, em pleno século XXI a inquisição ainda impera, e preconceitos medievais estão nas mentalidades das pessoas. Tão logo a humanidade se encontrará no cenário pós apocalíptico retratado em O livro de Eli, em que a religião destrói o mundo e deter a Bíblia em sua estante significa controlar a humanidade, o que já é verdade em nossos dias, já que a maioria dos valores que nos são ensinados estão pautados em preceitos religiosos.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Por que mais famílias negras dos EUA optam por educar seus filhos em casa?


Brian Wheeler
Da BBC News em Washington

té recentemente, a prática de home schooling (educação domiciliar) nos Estados Unidos era mais comum entre famílias brancas, mas um crescente número de negros tem, atualmente, retirado seus filhos das escolas públicas e optado por educá-los em casa. Mas por quê?
"Há muitas brigas e pessoas levando tiros (nas escolas)", explica Sonya Barbee, uma das que recorreram ao ensino doméstico. "Era demais, não era um bom ambiente para uma criança. Apesar de eu trabalhar período integral e ser difícil para mim, ainda acho que foi a decisão correta."
Sonya não está levando uma vida fácil. Mãe solteira e funcionária do governo dos EUA, ela agora tem a tarefa adicional de ser professora de seu filho de 11 anos, Copeland.
Mas nem a violência, nem o fato de seu filho sofrer bullying, foram a gota d'água. Sonya tomou a decisão de tirar Copeland de uma escola pública em "uma área ruim de Washington" porque o menino estava "perdendo seu amor pelo aprendizado".
Agora, com a ajuda da mãe de Sonya, que cuida de Copeland duas vezes por semana enquanto ele estuda na internet, ela espera "reacender a chama" da curiosidade do filho. Ensina-o depois de sua jornada de trabalho e em feriados.
Seu único lamento até agora é pelo fato de Copeland não estar muito animado, por sentir falta da "loucura" da sala de aula. Mas ela ressalta que o processo de educação domiciliar do filho ainda é recente.
Cerca de 2 milhões de crianças americanas (4% do total) são educadas em casa, segundo a associação norte-americana NHERI, que estuda esse setor. O número, porém, é uma estimativa, já que em muitos Estados as famílias não precisam registrar oficialmente que praticam o ensino doméstico.

Motivações

A prática, antes mais comum entre famílias cristãs brancas no sul rural do país - que criticavam o "liberalismo" de escolas públicas quanto a educação sexual e darwinismo -, tem ganho adeptos entre pais urbanos, com motivações mais educacionais do que religiosas.
O número geral de home schoolers tem crescido já há algum tempo, mas até há pouco era incomum entre famílias negras, segundo o diretor do NHERI, Brian Ray.
"Para a comunidade afro-americana, havia uma grande pressão contra (o ensino doméstico), porque, nos EUA, os avós das crianças hoje educadas em casa lutaram contra a segregação nas escolas. Eles pensavam que as escolas públicas iriam salvá-los (da discriminação social)", diz Ray.
Mas, segundo ele, essa atitude tem mudado rapidamente.
Joyce Burges, cofundadora da associação Educadores Domiciliares Negros, que educou em casa seus cinco filhos, afirma que "os fracassos do ensino público fizeram com que todos nós, brancos ou negros, buscássemos ideias criativas sobre a educação de nossos filhos".
"Isso explica o aumento no número de escolas cooperativas e de afro-americanos vendo que (as alternativas ao ensino público) não são mais uma coisa de brancos."

Desempenho

Apesar do fim da segregação nas escolas, há um abismo no desempenho escolar de brancos e negros que pouco mudou desde os anos 1960. O problema é especialmente sério entre meninos negros.
Segundo um estudo de 2008 da Fundação Schott, "nos últimos 25 anos, os desempenhos sociais, educacionais e econômicos de homens negros têm sido mais devastadores do que os de qualquer outro grupo racial ou étnico".
Monica Utsey, que coordena uma cooperativa de ensino domiciliar para crianças negras em Washington, diz que, "para mães afro-americanas, especialmente as mães de meninos, têm muitos problemas com o sistema de ensino. As salas de aula são melhores equipadas para meninas".
Pessoalmente, porém, sua principal motivação para educar seus filhos em casa era cultural: ela queria que as crianças aprendessem mais sobre suas raízes africanas e não achassem "que sua história começa com a escravidão".
Os home schoolers são duros críticos do sistema educacional, argumentando que os professores não oferecem uma educação ampla e atribuem qualquer problema de comportamento infantil a síndromes de deficit de atenção e hiperatividade.
"Os professores estão sempre dizendo aos pais que eles precisam medicar seus filhos, como se estes tivessem um problema médico. É uma loucura", diz Sonya Barbee. "Ninguém quer que seu filho vire um zumbi."
As cooperativas de ensino doméstico, em que as aulas são feitas pelos pais para grupos de idades mistas, se espalharam por cidades americanas nos últimos anos, ajudando a quebrar o estigma de isolamento das crianças educadas em casa - algo que era um constante alvo de críticas.

Não é para todos

Mas mesmo os defensores mais entusiasmados do modelo admitem que ele não é adequado para todas as famílias - costuma funcionar só para os pais mais comprometidos com todos os aspectos educacionais e que realmente desfrutam do tempo passado ensinando seus filhos.
Nem todos os pais conseguem se manter em dia com as exigências curriculares de ensino, principalmente se querem preparar seus filhos para a universidade. E muitas crianças educadas em casa acabam voltando à escola para cursar o ensino secundário.
Além disso, a prática não contribui com a melhoria do ensino público, o que, segundo especialistas, enfraquece a educação e os laços de toda a comunidade.
Joyve Burges acredita que pode estar perto o dia em que a cooperativa de ensino doméstico local, conduzida por um grupo de pais comprometidos, viraria uma alternativa real à escola pública, para crianças de todas as idades e etnias.
Aparentemente, a demanda para tal existe.
"Toda hora recebo e-mails e telefonemas de pessoas querendo saber se há alguém disponível para educar seu filho em casa", diz Monica Utsey. "Digo a eles que não funciona assim. A responsabilidade é dos pais."




sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Brasil deve se opor a sanções contra Síria na ONU, dizem diplomatas

Atualizado em  18 de agosto, 2011 - 04:54 (Brasília) 07:54 GMT
Suposto protesto na cidade síria de Latakia. Foto: AFP
Para diplomacia brasileira, sanções individuais contra a Síria poderia causar mais divisão
Apesar da crescente condenação internacional à Síria pela repressão a manifestantes civis, o Brasil deverá se opor, em reunião do Conselho de Segurança da ONU nesta quinta-feira, à adoção de sanções ou novas ações coercitivas contra o regime de Bashar Al-Assad.
Na reunião do Conselho, serão discutidos os próximos passos do Conselho diante da violência na Síria, que já deixou 1,7 mil mortos e milhares de detidos desde o início dos protestos contra o governo, em março. A família Assad está no poder há 41 anos.
Segundo diplomatas brasileiros, o Itamaraty defenderá medidas de pressão sobre Damasco para que interrompa a violência e implemente as promessas de transição à democracia.
No entanto, o governo avalia que é necessário dar tempo para que Assad mostre sinais de seriedade e organize um processo eleitoral que permita ao país deixar o modelo unipartidário.
Para a diplomacia brasileira, uma escalada de sanções individuais contra a Síria também seria negativa e poderia provocar ainda mais divisão no país, impondo obstáculos ao fim dos confrontos.
O Brasil prega ainda que os membros do órgão se mantenham coesos e que os elementos contidos na declaração presidencial aprovada pelo Conselho em 3 de agosto – que condena o uso das Forças Armadas contra os manifestantes e exige a implementação de uma democracia multipartidária – sejam cobrados insistentemente.
Ainda que todos os 15 membros do Conselho, no qual o Brasil detém assento rotativo, defendam o fim da violência na Síria, há diferentes opiniões sobre como alcançá-lo.
Na semana passada, a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, exortou todos os países a cortar laços políticos e econômicos com Damasco.
Segundo Hillary, ao comprar petróleo e gás natural da Síria e lhe vender armas, os países dão a Assad fôlego para manter a repressão.
Os EUA já impuseram sanções unilaterais a Damasco e têm estimulado outros países a adotar medidas semelhantes.
Países europeus também adotaram sanções, e mesmo nações do Oriente Médio têm se posicionado contra Assad.
Foto: BBC
Conselho de Segurança discute violência na Síria, que já deixou 1,7 mil mortos (Foto: BBC)
Neste mês, a Arábia Saudita, o Bahrein e o Kuwait convocaram seus embaixadores em Damasco (medida diplomática que expressa reprovação à postura do governo sírio), e o chanceler turco, Ahmet Davutoglu, disse que os métodos das forças de segurança sírias eram "inaceitáveis".
Missão humanitária
Também nesta quinta-feira, uma investigação da ONU pediu para que o Conselho de Segurança considere denunciar a Síria ao Tribunal Penal Internacional.
Clique Leia mais: Síria cometeu crimes contra humanidade, diz relatório da ONU
Na reunião desta quinta, também deve ser anunciado o envio de uma missão humanitária do Escritório para a Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU (Ocha, sigla em inglês) à Síria, com o qual o governo sírio teria concordado.
Em abril, o Conselho de Direitos Humanos da ONU aprovou uma resolução em que condenou a repressão a manifestantes e pediu o envio de uma missão para investigar supostos crimes cometidos pelas forças de segurança sírias. No entanto, Damasco tem se recusado a receber a missão investigativa.
Para o Itamaraty, a aceitação do governo sírio a uma missão humanitária e a entrada da imprensa internacional representariam dois passos positivos em direção à solução dos conflitos.
Diplomatas brasileiros se opõem, no entanto, a ações mais incisivas, dizendo que elas poderiam desencadear reações indesejadas, como incentivar a oposição a rejeitar ofertas de diálogo e a exigir a queda da Assad – o que aumentaria o risco de confrontos.
Além disso, os diplomatas acreditam que medidas mais duras sinalizariam ao líder sírio que a comunidade internacional teria lhe fechado as portas, não lhe dando outra alternativa que não combater a oposição até o final.
Além de esperar que o governo Assad dê provas de seriedade e tome ações concretas, o governo brasileiro deseja que as decisões do Conselho de Segurança tenham respaldo regional e convençam mais membros da oposição síria a se engajar num diálogo com o governo com vistas a um entendimento.
Em 10 de agosto, uma delegação do grupo Ibas, integrado por Brasil, Índia e África do Sul, reuniu-se com Assad em Damasco. No encontro, o grupo pediu que o governo sírio considerasse a resolução do Conselho de Direitos Humanos.

Sanções à Síria

"Mesmo sem essas medidas (mais duras), a situação já vem se deteriorando. É hora de dar passos adiante."
Peggy Hicks, diretora do Human Rights Watch
O grupo comunicou que é fundamental que o regime dê prosseguimento ao diálogo nacional e às reformas políticas, com o objetivo de atender às aspirações da população.
No encontro, o ministro para os Negócios Estrangeiros e Expatriados, Walid Al-Moualem, respondeu que a Síria será uma democracia livre, pluralista e multipartidária até o fim do ano e que um comitê jurídico independente foi formado para investigar a violência.
O Brasil quer aguardar o relatório desse comitê para saber se o país terá condições de julgar e punir os responsáveis pela violência. O Itamaraty acredita, no entanto, que a simples criação do comitê dá margem para que a comunidade internacional exija a responsabilização dos culpados e a imparcialidade do órgão.
Críticas ao Brasil
Embora elogiem a iniciativa do Brasil em buscar uma solução para o impasse na Síria, ONGs internacionais têm criticado a recusa da diplomacia brasileira em exercer uma pressão maior sobre Damasco.
Para a diretora da Human Rights Watch Peggy Hicks, o Brasil deveria se esforçar para que o governo sírio autorize o acesso da missão de investigação.
Hicks rejeita o argumento da diplomacia brasileira de que a adoção de medidas mais duras poderia levar à intensificação dos confrontos.
"Mesmo sem essas medidas, a situação já vem se deteriorando. É hora de dar passos adiante", disse à BBC Brasil.
Segundo ela, está claro que a Síria não acatou as sugestões do grupo Ibas, que ela classificou de "bem intencionadas".
Camila Asano, coodenadora de política externa e direitos humanos da ONG Conectas, diz que o governo brasileiro e o Ibas têm usado uma "linguagem branda demais" ao tratar da violência na Síria.
Ela condenou uma declaração do Ibas em que as decisões do governo sírio diante dos confrontos foram classificadas como "erros".
"Não foram erros, foram claras violações dos direitos humanos", diz.
Asano afirmou, no entanto, concordar com a cautela com que o Itamaraty tem tratado a ideia de uma possível intervenção militar na Síria, similar à que hoje ocorre na Líbia.
"Mas não é por condenar medidas coercitivas que o Brasil deve adotar um tom brando, que deixe o governo sírio numa posição confortável para manter a repressão", diz.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Sobre a verdadeira face do Imperialismo

É sabido que em contextos de guerra há um esforço geral da população, pois não há como produzir alimentos com os campos tomados pela guerra se torna impossível produzir, junto com a guerra vem a fome, pois não se produz comida. Para completar a seca compromete ainda mais a situação, pois não falara só comida, mas também água. Assim sendo, os que não morrem na guerra, morrem de fome, de sede ou das doenças que já assolam o continente e os atingem com mais força, pois seus corpos já estão muito enfraquecidos pela subnutrição e desidratação.
A ajuda ocidental não chega como punição aos que são contrários aos seus interesses, mas os mais atingidos com esse descaso são os que mais precisam, dessa ajuda, os que não têm nada a ver com os conflitos. Quando essa ajuda humanitária, que é necessária, chega, é sempre em forma e armas, ou para o governo, como é no caso da Somália, pois o governo fomenta a cultura ocidental e nada faz para resolver problemas existentes no exercício dos direitos humanos, como água, comida, saúde, educação, segurança; ou a rebeldes, como é na Líbia, onde ocidente quer depor o presidente que contraria os interesses dos ocidentais.
A ajuda nunca chega na forma de comida, água ou remédios, sempre como armas. Missões armadas ocidentais, como as retratadas nos filmes Hotel Ruanda, Falcão Negro em Perigo e Lágrimas do Sol são reais. Ao invés de missões pacificadoras como a ocorrida no Haiti, com o objetivo de troná-lo um quintal para os ianques, há missões do tipo blitz, missões de resgate de ocidentais que vivem lá. Um grupo pequeno de soldados é enviado para resgatar um grupo ainda menor de brancos não africanos, e sendo o resgate feito, nada mais acontece.
Esses filmes retratam a realidade acerca das incursões militares do ocidente na África não se importam em momento algum em levar ou manter a paz, há não ser quando há interesses comerciais, como se deu no Haiti, e no Iraque. Deixam os africanos, incapacitados de resolver os problemas do continente, pois estão desprovidos de quais quer meios após três séculos de exploração capitalista, abandonados à própria sorte.
Isso, é claro, causa ainda mais revolta, revolta que se mostra em ataques de piratas a navios, em atentados na Europa, nas revoltas populares nos subúrbios das grandes cidades da França. Mas ocidente fecha os olhos, prefere que se autodestruam, pois seria um mal necessário para que o discurso neodarwinista e nazista de colocar o homem europeu como o ser humano em sua completude, e de que as outras “raças” eram incompletas, imperfeitas e, portanto, se faz necessário eliminá-las da face da terra.
O ocidente fecha os olhos porque muitos dos africanos não veem importância em tomar uma garrafa de Coca Cola ou comparar um tênis Nike ou Adidas, não veem status em possuir um carro Ford ou BMW, não querem ser cristãos ou ateus, levam a religião e a cultura próprias a sério, não aceitam a imposição do modo de vida ocidental sobre suas culturas. Isso faz deles, aos olhos das potências ocidentais, criminosos cuja sentença é a morte, quer seja pela guerra, pelas doenças, pela fome. Que crime cometeram? Resistir ao imperialismo, ser diferente, ter um modo de vida próprio e não copiar o ocidental.
É nessa hora que se nota o papel de organizações como a OTAN e a ONU, órgãos internacionais a serviço dos interesses comerciais ocidentais, a final, nenhuma sanção foi aplicada aos EUA quando ignoraram a decisão da ONU em proibir a guerra do Iraque em 2003.

domingo, 3 de julho de 2011

Sobre o Coronelismo na Região Norte


Os fatos ocorridos no Pará em maio de 2011 lembram e muito o tempo em que os coronéis eram figuras comuns nas áreas rurais do Brasil, os primeiros anos da república. Tempos nos quais o fazendeiro explorava os trabalhadores rurais, expulsavam-nos de suas terras ou coisas parecidas. Não havia leis que protegessem esses trabalhadores, mas por um simples motivo, os legisladores eram os próprios fazendeiros, eles eram os vereadores, os deputados e senadores.
Muitos foram os que lutaram por melhores condições, na Amazônia se destacam nomes como Chico Mendes, Ajuricaba, Doroty Stang. Luaram não só pelos direitos dos trabalhadores, mas lutaram pela sustentabilidade da floresta, pela defesa da posse da terra aos povos indígenas. Uma vez que na Amazônia, houve um incentivo por parte dos governos à pecuária extensiva, ao desmatamento, e a outras tantas atrocidades que são constantemente cometidas e simplesmente fecham-se os olhos dos que deveriam defender a floresta, que não se sabe por que milagre ainda está sob domínio brasileiro.
Por último Maria do Espírito Santo, punida por coronéis do Século XXI, como José Sarney, Jader Barbalho, o (ainda bem) já falecido Antônio Carlos Magalhães e tantos outros que fizeram dos seus estados seus quintais, onde as suas vontades vigoravam sob a forme de leis locais.
Maria do Espírito Santo morreu porque defendeu melhores condições de trabalho para os seus semelhantes, pois sabe-senão de agora que na região norte a escravidão não acabou no 13 de maio de 1888, nem com a Constituição de 1988, tampouco acabara nesta década se as ações de combate a esses regimes de trabalho continuarem da mesma forma.
Essas mortes são mais que outra coisa uma denúncia, uma denúncia de que algo precisa ser feito, porque nessas regiões ainda se vive no meio de coronéis como na República Velha, em meio a ameaças e a regimes exploratórios de trabalho, nos seringais, nas fazendas de gado, nas serrarias e assim por diante.

domingo, 12 de junho de 2011

A Problemática da Historiografia da América Pre-Colombiana


Por que só se conta uma História da América relatando fatos ou fenômenos ocorridos após 1492? Por que o que se sabe sobre os povos da América Pré-Colombiana é baseado em achados pós-colombianos? Por que se tem uma historiografia americana com caráter eurocêntrico, com um olhar europeu, um juízo de valor europeu, com requintes de modernismo e lascilação da sociedade? São essas as perguntas que moverão este trabalho, não só essas perguntas, mas também as prováveis respostas para elas.
A história nos últimos séculos é, principalmente, a história da expansão da Europa Ocidental, que, ao constituir-se m núcleo de um novo processo civilizatório, se lança sobre os outros povos em ondas sucessivas de violência, de cobiça e de opressão. (RIBEIRO, p.47)
1492 foi o ano que marcou a história da humanidade, não por incidentes ocorridos no continente europeu, mas pelo que ocorreu fora dele. A descoberta de um continente a oeste da Europa fez surgir um novo tipo de economia, não mais a economia de explorar as riquezas da terra, mas a exploração do capital humano lá existente. A escravidão há muito desaparecida iria retomar sua importância, uma nova política colonialista iria surgir.
Essa nova política foi impulsionada pelo metalismo e pelo bulionismo praticados pelos Estados imperiais europeus. A política metalista consiste na busca e acumulação de metais preciosos (ouro e prata) nas casas reais dos Estados europeus, o bulionismo vem a ser as políticas criadas por esses estados para fazer com que cada vez mais metais entrem e cada vez menos metais saiam desses Estados. Os Estados ibéricos exploraram como ninguém esses metais na América, e o fizeram com a falsa idéia de agentes civilizadores dos nativos. Isso já é sabido de todos. Mas, em que se sustenta esse caráter eurocêntrico dessa historiografia? Em que se baseiam os historiadores modernos sobre o tema? Porque não se tem uma história concisa sobre a América pré-colombiana? Porque os povos incas, maias e astecas não foram durante muito tempo tidos como civilizados?
A idéia da Europa como centro do mundo, pregada a princípio pelo Império Romano, e depois pela Igreja Católica chegou aos Estados Europeus, que nessa época se apresentavam apenas como Portugal e Espanha. Essa idéia passava uma mensagem que todos os outros continentes deveriam servir à Europa. Assim eles subjugavam as outras terras expandindo seus domínios políticos e ideológicos.
O faziam justificando-se como enviados de Deus para civilizar os ameríndios. Isso sem desconsiderar um detalhe: havia uma lenda comum aos povos indígenas que deuses viriam do mar para dar-lhes fartura de alimentos e glórias nas batalhas. Isso sim contribuiu para uma dominação ideológica e política dos europeus sobre os ameríndios Houve uma passividade dos indígenas que acreditavam ser os europeus esses deuses.
Após a dominação houve uma construção da história da conquista da América, trata-se de narrativas, como La Conquista de México de D. Henán Cortez. A Carta de Descoberta do Brasil de Pero Vaz de Caminha, e uma obra que foi posteriormente intitulada La Conquista Del Paraíso, que foi baseada nos relatos de Cristovam Colombo acerca da descoberta da A-mérica. Essas narrativas mostram um olhar europeu sobra a América, são narrativas pessoais, muitos são transcrições de diários, ou seja, já começam selecionando os elementos a serem descritos e subjugando os povos nativos da América. Logo que descobriam os templos aos deuses nativos, os colonizadores trataram de destruir não só as pessoas, mas as cidades, tem-plos e locais sagrados, mantendo muito poucos conservados, apenas porque estes lhes traziam alguma importância, ou não conseguiram ser destruídos, ou simplesmente por que não foram descobertos.
Os europeus sequer esperavam encontrar seres humanos na América, os encontraram e os consideraram como selvagens, como animais em um estágio próximo ao do ser humano. Então decidiram por civilizá-los, adequá-los aos padrões europeus, dar-lhes uma religiosidade católica, roupas para cobrirem o corpo, disciplina de trabalho não como havia, o trabalho para manutenção da vida e da comunidade, mas um trabalho para a acumulação de bens, metais alimentos e terras. Aí se via mais uma justificativa para uma dominação ideológica. Além do catecismo, que seria uma compensação da perda de fiéis causada pela Reforma Protestante. A princípio não havia colônias, havia missões, estas tinham como principal função transformar os indígenas em nativos.
Logo que os conseguiram, trataram de escravizá-los, dar-lhes a disciplina européia de trabalho, caracterizada pelo trabalho capitalista, um trabalho sustentar outro que não o próprio trabalhador. Não há dúvidas de que o catecismo contribuiu em muito com o colonialismo. Mas a questão pertinente é a questão historiográfica, é o porquê dessa historiografia que se tem de antes dessa colonização é tão precária, tão rarefeita. Uma das respostas é a questão do agente civilizador. Só se conta história quando se tem civilizações, e os colonizadores queria justificar sua dominação como civilizadores, colocando os ameríndios como bárbaros, ou seja, como não-civilizados.
Vale ressaltar que há dois critérios para que uma sociedade seja considerada como civilização, são eles a existência de cidades e a dominação de escritas. O que não foram observados em primeira instância, embora fossem constatadas depois a existências destes por historiadores modernos, por arqueólogos. Mas a historiografia americana já estava impregnada com a barbarização dos nativos, e derrubar esse paradigma tornou-se uma tarefa árdua e difícil de ser aceita quer seja pelo público quer seja pela comunidade científica.
Quando um historiador de nossos dias decide estudar as sociedades pré-colombinas encontra um primeiro obstáculo: a pouca quantidade de fontes. Foram poucos os documentos poupados da destruição pelos conquistadores e as fontes imateriais, como os costumes e a língua foram suprimidos pelo modo de vida europeu imposto aos nativos pelos colonizadores. As aldeias e cidades, assim como os templos foram em sua maior parte destruídos, se não no momento da conquista, foram depois pelo catecismo ou pelo tempo, isso porque quase não sobraram pessoas para dar a estes o devido cuidado.
As fontes que restaram são o que se chama de cultura material, pouquíssimos documentos em museus da Europa e Estados Unidos. Além dessas poucas fontes em museus, há as mais escassas, que são os templos e cidades, situados nas mais densas e distantes localidades, em florestas de difícil acesso ou sob as grandes cidades, como é comum na América Central. Além disso, as fontes escritas são inexistentes, foram feitas em matérias orgânicos, poços e contáveis são os inscritos em pedra, que já estão corroídos pelo tempo e impossíveis de serem estudados.
A ainda há o problema dos relatos, muitas das histórias contadas pelos nativos se perderam com o tempo, há pouquíssimos relatos escritos, e no mais, os mesmos foram escritos por conquistadores europeus. O que implica em um relato distorcido destas sociedades, destas civilizações. Este vem a ser um dos maiores problemas da construção de uma História da América Pré-Colombiana, a falta de fontes diretas, o que faz desse historiador que tenta escrever essa história mais um arqueólogo do que um historiador de fato.
Então o historiador que mais é um arqueólogo tem de se esforçar para reconstruir uma história não documentada, cujos poucos vestígios quase todos se perderam e os relatos são quase inexistentes, se resumem a mitos lendas e epopéias. E esta se constitui de relatos fragmentados, isolados, deixando o seu trabalho cheio de lacunas, cheio de falhas, tornando-o subjetivo, tornando-o mais literatura que ciência, um trabalho onde ele tem de recriar e criar muitos fatos sem evidências provadas cientificamente.
Nota-se que o problema aparentemente não está na historiografia, está na história, é nela que está a estirpe dessa problemática, pois nela os relatos são construídos, nelas as fontes para a historiografia, para o trabalho do historiador, estão localizadas e é nela que ele as busca. A história da América Pré-Colombiana foi construída por europeus, por colonizadores, que se valeram do julgo de “trazedores da civilização” para esse continente. Tinham, para justificar sua dominação, de ignorar as civilizações aqui encontradas, destruir os “Estados” aqui encontrados, se é que assim se podem chamar as instituições dos Incas, Maias e Astecas.
Tinham de ignorar o que encontraram na América, pois os sentimentos nacionalistas que os moviam faziam-nos declarar a Europa como o berço da civilização, que os europeus têm de levar essa civilização para o resto do mundo. Por isso esses colonizadores, ou melhor, esses conquistadores tinham de destruir as evidências que lembrassem e existência de civilizações anteriores à chegada deles. O problema aqui tratado não chega a ser um fato, é um tema não para pesquisa prática, mas para o estudo de teorias, de caso histórico. Não se deve perguntar o porquê não há uma História científica da América Pré-Colombiana, mas que fatores influenciaram essa historiografia falha e cheia de lacunas que se tem a respeito desse período da história do mundo.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Onde está a democracia?

Por: Everton Marques de Carvalho

Moses Finley é especialista em Grécia Antiga, tanto do período Arcaico quanto to do período Clássico. Escreveu também The Ancient Greeks (Os Gregos da Anti-guidade), onde ele conta o surgimento da civilização grega e também como funcio-nava em seu período arcaico, como se constituíram as cidades e como se dava a relação entre elas. Em The Ulysses World (O Mundo de Ulisses), Finley trata de como era a Grécia Arcaica, principalmente dando enfoque às sociedades ateniense, espartana e troiana, como se dava a relação cultural e econômica entre elas, o que causou as guerras entre gregos e troianos. Uma outra obra muito conhecida do autor é Democracia Antiga e Moderna, onde ele faz um paralelo entre a democracia ateniense e a democracia moderna, obra esta que contém o capítulo Líderes e Liderados.

Democracia Antiga e Moderna é uma crítica à democracia moderna, onde Fin-ley busca na Democracia Antiga os fundamentos da Moderna, busca em seu traba-lho estabelecer semelhanças e diferenças entre elas. Líderes e Liderados é o capitulo que trata das relações entre governantes e governados na Grécia Antiga, ou para ser mais preciso, em Atenas, mantém o rigor crítico, mas toma base em dados teóricos e práticos para criticar a democracia moderna. O autor mostra que a tendência liberalista das democracias ocidentais, e a distorção do ideal desta doutri-na causa aos cidadãos comuns um sentimento de Apatia Política, pois o cidadão só participa da política enquanto eleitor, no mais é apenas o cidadão comum, não participa diretamente da política. O cidadão escolhe representantes que tomarão as decisões da nação durante um período. Mas esses representantes apenas dizem fazer a vontade dos seus eleitores, no mais tratam de criar formas de se manter no poder.

É essa não-participação que gera o que o autor chama de “Apatia Política”, que é uma rejeição ao direito de voto. Quanto às democracias modernas onde o voto é obrigatório, ou seja, nos países mais pobres, onde os governos são mais corruptos, a apatia se mostra em abstenções nas urnas ou em sentimentos anti-nacionalistas. Essa apatia política é resultante da não satisfação dos cidadãos, pois eles escolhem os representantes que ele diz fazer as suas vontades, mas esses políticos não atendem essas vontades, fazendo o cidadão não usufruir de seus direitos.

Enquanto na democracia moderna os cidadãos escolhem seus políticos, a democracia antiga o cidadão é o próprio político, é ao mesmo tempo líder e liderado. Ele tem de promover em todo momento práticas que promovam o bem-estar social para que possa participar da Eclésia, grupo de cidadãos que governa o Estado na Grécia Clássica, ou se participa, para permanecer nela. Participar da Eclésia (As-sembléia), era uma contemplação, é um reconhecimento dessa participação, dessa bem-feitoria à sociedade, ao lar (como os antigos gregos se referiam à cidade). A participação na cena política era uma retribuição ao que o indivíduo fazia à comuni-dade, quando o deixava de fazê-la era retirado da assembléia.

Uma vez terminado o mandato de um membro da Assembléia, ele não poderia participar novamente da Eclésia, pois caracterizaria uma Oligarquia, ou uma timo-cracia, onde o Estado é regido por um grupo seleto. Hoje a participação política é comparada a uma profissão, é o político que dita as regras da comunidade, e não a comunidade que dita as regras da política.

Em Atenas, a democracia era explicada com a parábola do campo de trigo, “quando um ramo se sobressai ais outros ele tem de ser cortado”. O cidadão que participava da assembléia por um ano, depois saia dela e não sabia quando retornaria, ou se retornaria. Na democracia ateniense essa rotatividade permitia que todos participassem da Assembléia. Enquanto na democracia moderna há uma permanência na cena política. O indivíduo que é deputado depois se torna senador e presidente, quando o deixa de ser retorna para outro cargo, não deixando que outros participem da política. Isso faz da democracia moderna uma espécie oligarquia disfarçada, onde famílias tomam conta do poder (nacional ou regional) e não permitem que indivíduos participem da administração pública.

Além dessa permanência no poder há uma hierarquização do poder, a demo-cracia moderna se apresenta em uma forma piramidal, onde há o executivo na pes-soa do Chefe de Estado acima de seus ministros e logo abaixo seus deputados. O legislativo que deveria estar unido paralelo ao executivo mostra-se fragmentado e abaixo deste. Os legisladores se apresentam como contrários ou a favor de determi-nados governantes, e não contrários ou a favor de políticas praticadas ou projetos elaborados. Acaba que essa participação na cena política moderna se dá por meio de relações entre os governantes e governantes, e não entre governantes e gover-nados.

Na democracia ateniense não havia essa relação governante-governado, o governante era o governado e o governado também era governante. Um outro contra-ponto encontrado por Finley, que leva o significado da palavra democracia ao pé da letra, como já é sabido, democracia, na raiz da palavra, significa “poder que vem do povo”. Em Atenas o povo fazia o poder político, no Estado moderno quem faz o poder político é uma Elite representativa, que diz governar em nome dos cidadãos comuns, mas não o faz, causando a “Apatia Política” citada por Finley. Para ele a democracia moderna é uma distorção da antiga, é uma aristocracia disfarçada.

Na Atenas Clássica as leis eram feitas por cidadãos que tinham de obedecê-las posteriormente, enquanto cidadãos, pois logo deixaria de fazer parte da Assembléia e tinha de obedecer às leis como cidadão comum, e s enquanto membro da Eclésia ele descumprisse alguma lei, poderia ser retirado dela. Na democracia moderna o que se vê é o contrário. O cidadão comum coloca os governantes no poder mas não podem tirá-lo, a não ser pelo voto. As leis são feitas pelos governantes e os cidadãos comuns não podem questioná-las, apenas devem obedecê-las, e os governantes ficam acima delas, são imunes às leis que eles criam.

Democracia Antiga e Moderna nos ajuda a compreender como funcionava a democracia antiga e como funciona a contemporânea, trazendo suas semelhanças e divergências, seus pontos semelhantes e opostos. Líderes e liderados trata especificamente de como se dava a relação entre governantes e liderados, como eles se diferenciavam, de como eles se abalizavam, mostra que na Atenas Clássica havia uma relação de reciprocidade entre governo e sociedade, isso porque eram os dois uma só instituição. E na modernidade há uma relação semelhante è relação senhor-servo existente na Idade Média, o governo está superior à sociedade. O que, segundo Finley, não pode ser chamado de democracia.

O quê se pode concluir? Pode-se concluir que não se tem Democracia no mundo moderno, que esse sistema político é impossível quando se trata de milhões de indivíduos. Ao ver países ditos modernos e democráticos usarem da força para instituir a democracia em outros países ditos não democráticos deve-se questionar a democracia moderna. E o que dizer de casos como o que se prolonga desde o ano de 2003 quando soldados americanos invadiram o Iraque com a desculpa de instituir a democracia? Sabe-se que em regimes autoritários há um maior respeito às leis e à integridade do Estado, há um nacionalismo forçado, mas este ainda existe.

Quando se trata de democracia tomamos os países desenvolvidos como modelo, mas como uma país onde quem perde nas urnas assume a frente do Estado pode ser democrático, como um país que impõe-se sobre estados que ele mesmo reconhece a independência a fim de colocar neles as suas rédeas, como um país que preza pela democracia pode se definir como o remanescente do Império Romano? O conceito de democracia deve ser, e muito, repensado, afinal, está sendo deturpado por aqueles que dizem fortalecê-lo.


Trabalho apresentado originalmente à Disciplina História Antiga, do curso de História da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia em agosto de 2009. também disponível em: http://arvoredaliberdade.blogspot.com/2010/01/onde-esta-democracia-1.html desde 18 jan. 2010.




FINLEY, M. I. “Líderes e Liderados.” In: Democracia Antiga e Moderna, por M. I. FINLEY, tradução: Waldéa Barcellos. Rio de Janeiro, RJ: Graal, 1988.